As melhores histórias contadas em peças de teatro e no cinema versam sobre um protagonista, seu antagonista e por vezes um elenco de coadjuvantes. Em programas humorísticos os coadjuvantes fazem o papel de escada para o personagem principal brilhar. Todos são importantes no enredo, mas não há como dar destaque para cada ator ou cada personagem.
A História com "H" maiúsculo também é contada por uma infinidade de coadjuvantes, alguns protagonistas e alguns antagonistas - os mocinhos e os bandidos, se você preferir. Quando inventam de adicionar vários protagonistas numa história, temos como resultado um filme de catástrofe.
O primeiro exemplo que me vem em mente é "Inferno na Torre" de 1974, cujo elenco era super estelar, com Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire, Richard Chamberlain, Jennifer Jones, Robert Vaughn, Robert Wagner e outros. O filme mostra um incêndio num arranha-céu no dia da inauguração, queimando uma a um - poucos se salvaram.
O cenário atual da política brasileira é semelhante. O país está pegando fogo. A cada momento alguém arde em chamas. Políticos e empresários obviamente, por causa da corrupção sistêmica. Mas também promotores, juízes, jornalistas e historiadores. Até os youtubers estão entrando na roda. E no meio de tantos protagonistas - ora bandidos e ora mocinhos - não há ninguém que possa catalisar um sentimento de mudança e retomada dos rumos.
As redes sociais ofereceram holofotes para qualquer indivíduo com uma boca e um teclado. Todos querem ser os personagens principais desse filme catastrófico. Ministros do Supremo Tribunal Federal, antes discretos e atuantes em bastidores, se tornaram popstars. Membros do Ministério Público e da Polícia Federal convocam entrevistas coletivas para anunciar novas etapas de suas operações com nomes sensacionalistas. Historiadores, que antes se limitavam a observar a História, pegam em microfones para debater com políticos. Jornalistas são grampeados como se fossem corruptos investigados, pois suas opiniões ultrapassaram as páginas editoriais da mídia e assumiram ares de discursos ideológicos.
Coitados dos jogadores de futebol e dos artistas da televisão: eles perderam o monopólio do status de celebridades. O grande problema é que a calçada da fama é pequena para tanta estrela. Não é só a corrupção que está dragando o futuro do Brasil. É a fogueira de vaidades que está sublimando as esperanças do povo, que continua sendo mero coadjuvante.
O presidente não renuncia por causa da vaidade. O jornalista insiste em dar opinião e se esquece de fazer jornalismo investigativo, pois isso não lhe rende atenção. O historiador vira radialista e frequenta a bancada de um jornal de TV, ao invés de se resguardar para produzir registros isentos para as próximas gerações. Juízes e promotores querem ser os salvadores da pátria: em nome de uma pseudo justiça se esquecem da vida real, onde os coadjuvantes perdem empregos diariamente.
Nesse filme onde todos querem aparecer, são aqueles que buscam as sombras que seguem livres e soltos, solapando a força de trabalho do povo brasileiro e desfrutando dos prazeres que só o anonimato em terras estrangeiras pode oferecer.
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O jeito é emagrecer, virar uma agulha ambulante. Aí fica mais fácil se enfiar no meio daqueles que ocupam e se julgam donos da calçada.
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