A DKW Vemaguet envelhece com dignidade nas ruas de Águas de São Pedro. |
Caminhando pelas alamedas de Águas de São Pedro vejo uma velha DKW Vemaguet estacionada sob a copa de uma árvore. A carroceria na cor caqui está toda manchada. Se fosse um caqui na fruteira, já teria sido lançado fora. Mas não era uma fruta, era um carro. Os carros, quando elegantes, se reservam o direito de desfilar sua paulatina decadência. Vejo mais graça em automóveis assim do que em modelos reformados com densas camadas de botox e cromados.
Me aproximo para observar o painel de perto e percebo o reflexo da minha face na janela do motorista. Lá estou eu, de cabelos brancos pipocando nas têmporas, com a ação da gravidade a empurrar minhas pálpebras para baixo, tirando o protagonismo dos meus olhos verdes. Não consigo mais distinguir o maxilar do pescoço. Apesar de ser pelo menos dez anos mais jovem do que a Vemaguet, fico a pensar se minha dona também vai me conservar assim, sem uma restauração.
- Preciso continuar atraente para ela.
Envelhecer é um exercício de aceitação e tolerância. Vamos perdoando as rugas um do outro, num pacto de fidelidade para que nenhuma parte do acordo tácito fique sozinha antes da hora.
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