sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Se a Internet é uma metrópole, estamos vivendo em favelas

Qual é o seu lugar na Internet?
Qual é o seu lugar na Internet?

O termo em inglês "Internet" pode ser traduzido como "rede interligada" em português. O significado de rede (net) fazia muito sentido nos primórdios deste meio de comunicação que deu início à Revolução Digital.

Não vamos falar em "pré-história" da Internet mas vamos relacioná-la com a Idade Média para compreender seu funcionamento, quando ela começou a se popularizar. Naquele tempo, em meados da década de 1990, os internautas que navegavam pela Internet eram quase todos camponeses, peregrinando de sítio em sítio. Não por acaso, "sítio" em inglês é "site". Um site na Internet é como um sítio interligado ao outro por uma rede de estradas, os links.

Cada sítio construía ligações com demais sítios por afinidade de assuntos ou por complementaridade - o que não tinha num sítio era oferecido em outro. Eram dias mais criativos, colaborativos e generosos. Aqueles peregrinos que se sentiam perdidos, volta e meia afluíam para as grandes catedrais em busca de um caminho. Estas catedrais eram os buscadores da Internet, como o Yahoo! e o Google. O Google acabou se tornando a "Igreja Católica da Idade Média da Internet".

Vamos fazer um corte no tempo, para os dias atuais. O Google ainda continua importante, mas perdeu espaço para redes sociais como Twitter e principalmente Facebook. O Facebook foi o maior beneficiado com a "Revolução Industrial da Internet" que promoveu um grande "êxodo rural". A locomotiva a vapor desse período atende pelo lançamento do smartphone da Apple em 2007.

A maioria esmagadora dos camponeses migrou via trem para a grande metrópole controlada justamente pelo Facebook, que ocupa o seu centro. Sítios foram abandonados, pois muitos sitiantes montaram lojas no centro da metrópole, que são as fanpages, cuja renda de aluguel (links patrocinados) faz a metrópole do Facebook crescer cada vez mais.

O que atraiu os camponeses (internautas) para o Facebook é que este lhe ofereceu um lugar para morar, algo que eles não tinham antes. Os mais afortunados construíram suas casas (blogs) com algum requinte. Porém quando o teto é (aparentemente) de graça não se pode reclamar e com isso milhões de internautas foram morar em quitinetes e barracos de favelas na periferia (os perfis sociais).

Na grande metrópole planejada pelo Facebook, as pessoas acordam cedo para ir ao centro. É a partir do centro que elas vão até às lojas (fanpages) e aqueles que desejam ir para o campo usam um sistema de transporte cuja passagem normalmente é paga pelo antigo sitiante. É um sistema de transporte radial onde tudo passa pelo centro, mesmo aqueles que vão para condomínios (portais de notícias que funcionam mediante assinatura).

Na favela do Facebook não há saneamento básico: convivemos com o esgoto a céu aberto (basta rolar o feed de notícias). A violência nas comunidades é notória e visitar a comunidade vizinha é um risco de tomar uma bala perdida. É o que acontece quando um "coxinha" vai ao reduto dos "mortadelas" e vice-versa.

Tem gente que vai para uma favela, mas trata de manter uma chácara na zona rural, onde a Internet é mais sadia e as conexões são diretas. Um exemplo disso está na vinícola do Ênio Padilha, cuja lista de endereços publicada neste artigo, promovendo um sistema de transporte perimetral (sem passar pelo centro da metrópole), me motivou a escrever estas linhas. E se você está lendo as mesmas, não se iluda, você acabou de fazer um passeio pelo campo, mas em breve estará de volta ao seu barraco na favela. O ônibus já está esperando. Vai embarcar nele?

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4 comentários:

  1. Comecei a usar as BBSs, a "net" que antecedeu a Internet tal qual a conhecemos a partir do momento que foi disponibilizada para o público brasileiro. Ainda no tempo da BBS comecei acessar a Internet quando ainda estava em implantação no Brasil, apenas para algumas Instituições e, principalmente, para poucas Universidades Públicas. Isso, graças a login compartilhado comigo por um aluno de uma Federal de MG.
    Curti muito o ICQ, que fez muito sucesso e antecedeu o Skype.
    Já faz mais de dois anos que mantenho distância do Facebook e vou seguindo muito bem sem essa "coisa" de "compartilhamentos do nada", e desde então estou bem melhor de saúde mental e capacidade disponivel de memória ROM. Então, que mais queria dizer, mesmo?... rsrsr... Ah, sim! Agora sou pego de surpresa ao ler o que o filho acabou de escrever, fazendo analogias entre Intetnet, sítios e favelas. É preciso de poderosos processadores e RAM para acompanhar e entender a juventude cibernética de hoje!
    Ai que saudades das BBSs e dos modens telefonicos com 1,2 e de até 2,4 kbps, quando se gastava uma nota preta em conta telefônica para baixar um arquivo de apenas uns míseros 100, e até 289 kbytes!!!

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    1. Precisamos aprender sobre o que queremos aprender e que será útil para o nosso progresso. Muitos hoje em dia se ocupam de informações inúteis, apesar de despertarem a curiosidade dos desavisados.

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  2. Caramba! É bem difícil encontrar quem possa construir uma analogia tão bem urdida e tão verossímil e útil para tomar decisões relevantes como essa que você fez, Jean. Muito obrigado!

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    1. Grato, Alberto Costa. Muitas pessoas não gostam de saber que estão vivendo como favelados na Internet, mas só que está consciente disso saberá se reposicionar diante do cenário posto. Abraço!

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