O ipê amarelo no meio do campo arado. |
Existem trajetos que se repetem tantas vezes em nossa rotina que se tornam enfadonhos.
É o tiozinho do sinal de trânsito que lhe oferece balas que você nunca vai comprar. É a dona do SUV da frente que se distrai com seu smartphone e não percebe que a luz verde acendeu. É o boyzinho que rebaixa a suspensão de seu carro e aumenta o volume do som que bate em nossos ouvidos feito uma estaca na piçarra. O outro joga a lata de Brahma Zero pela janela fumê. Zero de educação. Zero de transparência para não vermos a cara do indivíduo.
Então terei que passar por ali de novo? Então a vida é isso? Repetir caminhos para chegar aos mesmos lugares?
Não. Não pode ser só isso. Hoje, e não somente hoje, farei um caminho diferente. Vou pela roça. Lá deve ter algo que ainda não vi, que me acrescente uma fagulha de inspiração para levar o dia até o fim.
Mas a nossa roça está ficando insípida, com seus canaviais quilométricos e a poeira quente que levanta ao cruzarmos com os poucos veículos que se arriscam pelas vicinais do interior.
Subitamente avisto um ipê amarelo. Sozinho no meio do campo arado. Se ele fosse verde, como a maioria das árvores, não estaria ali. O trator já teria passado por cima dele. É por ser diferente que ele sobreviveu.
Aquele ipê me alertou, com suas exuberantes flores amarelas, para continuar seguindo por caminhos distintos. E deste modo o trator do destino terá mais dificuldades de me encontrar, para fazer um arado em minhas costas.
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