Os clichês não estão presentes apenas nos filmes de Hollywood, nas novelas da televisão e na literatura barata - eles inundam também as palestras motivacionais e os artigos do ambiente corporativo. Eis um exemplo de clichê repetido até por quem fez MBA ou doutorado em recursos humanos:
"Se você quer progredir e melhorar de vida, precisa se arriscar e sair da zona de conforto."
A frase vem provocativa, para tirar o receptor da mensagem do estágio catatônico em que se encontra. Mas quem emite a mesma está cometendo um auto-engano, ou não sabe ao certo o que é de fato a tal "zona de conforto", pois se ela é confortável, quem seria ingênuo de querer sair dela?
Estar numa real zona de conforto é não ter que trabalhar por necessidade, mas por opção prazerosa. O empreendedor que está na zona de conforto não faz investimentos no escuro, mas apostando na certeza de ganhar, pois seus riscos são calculados para, em caso negativo, lhe levar apenas a gordura e não um pedaço da carne do bife. Quem está fora da zona de conforto precisa acordar cedo para o batente - os empreendedores nestas condições investem com uma certa ansiedade, por causa da pressão por resultados positivos.
Quem está na zona de conforto se sente confortável em fazer exercícios físicos diários, pois a falta deles é desconfortável. Quem está na zona de conforto se sente confortável em ler um livro depois do outro, pois a ausência de um livro no criado-mudo é que gera o desconforto. Quem está na zona de conforto sente prazer em continuar crescendo. Quem está fora dela apenas corre atrás do osso, ou fica parado, pensando que está numa zona de conforto.
As pessoas estão confundindo "zona de conforto" com "zona de estagnação" - esta é a zona perigosa. Estar numa zona de estagnação significa que o gráfico de uma carreira mostra uma comprida linha reta horizontal. Porém, quem está acostumado a fazer análise de gráficos sabe que quase sempre depois de um longo segmento de estabilidade vem um período de decadência.
Estar numa zona de estagnação é se conformar com um emprego estável, que lhe paga as contas do mês mas não lhe oferece perspectivas de crescimento. O problema é que a idade chega e o custo de vida aumenta. Então, aquele salário corroído pela inflação não será suficiente para alimentar a despensa de casa e o armarinho dos remédios, com cada vez mais remédios.
Por isso, devemos fugir da zona de estagnação e mirar na zona de conforto, buscando a independência financeira que vai patrocinar a liberdade do indivíduo para realizar seus sonhos e os sonhos daqueles que o cerca.
É muito difícil atingir a zona de conforto. E quem chega nela não quer deixá-la jamais.
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Muito bom... É disso que precisamos. Pensamentos originais. Abordagens criativas e corajosas.
ResponderExcluirCaro Ênio, lhe sou muito grato pelo comentário, pois ele me deu o mote para o meu próximo texto, sobre pensar por conta própria. Abraço!
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