A Igreja da Candelária no Rio de Janeiro, próxima ao Teatro Municipal, fotografada em meados de 1996. |
Nos já nostálgicos anos 90 eu cursava Arquitetura em Campinas. No terceiro ano, em 1996, parte de nossa classe fez uma viajem de estudos ao Rio de Janeiro. Ficamos uma semana visitando a nata das obras emblemáticas da Cidade Maravilhosa. Aprendemos mais naquela semana do que num semestre inteiro de aulas teóricas.
Uma das professoras do grupo era bem relacionada no ambiente cultural fluminense e conseguiu alguns ingressos para uma apresentação de um conjunto de cordas no Teatro Municipal. Acabei aceitando um deles, uma vez que a maioria preferiu ir para um bar em Copacabana, e não sou de beber.
Vesti a melhor roupa disponível na mala: uma calça jeans e uma camisa polo com listras horizontais amarelas, azuis e cinzas. Pegamos um táxi: eu, a professora e mais três alunas. Chegamos ao suntuoso Teatro e senti uma angústia difícil de disfarçar, pois estava diante de uma conferência de pinguins da Antártida. Mentira. Eram senhores vestidos de smoking.
Adentramos no charmosíssimo vestíbulo do lugar. Eu de camisa pólo listrada no meio da hight-society, com atrizes da Rede Globo, colunistas de jornais, artistas diversos, solteironas, playboys e gente apavonada. Chamei tanta atenção que um carioca da gema nem se importou de comentar alto: "esse cara está elegante, hein?"
Uma das minhas colegas percebeu a situação e sentiu compaixão. Ela estava vestida feito uma diva de Hollywood e por onde passava os queixos desabavam (e não, nunca fiquei com a moça). Ela chegou perto de mim, pegou em meu braço e começamos a circular pelo imenso hall.
Passamos perto daquele sujeito de novo e fuzilei ele mentalmente: "toma, seu otário!" - Tenho certeza de que ele escutou meu pensamento pois ouvi o pensamento responsivo dele: "filha da mãe, que moleque folgado!"
Dezoito anos depois...
Fui convidado para ir a um evento, a inauguração da sede do CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo - em Campinas. Ocorre que subestimei a solenidade do mesmo. Lá vou eu, de novo, com minha camisa pólo, agora só com listras azuis e brancas e sapatos puídos de tanto visitar obras.
Chego lá e o pesadelo é recorrente: todo mundo muito bem vestido e gente graúda - do sindicato, da política e da universidade - conversando em rodinhas. Desta vez não havia ninguém para me socorrer. Numa situação dessas só tem um jeito, que é lembrar da música do Renato Russo:
"Festa estranha com gente esquisita, eu não tô legal..."
Naquela noite engatei a recomendação do Leão da Montanha, personagem dos desenhos de Hanna-Barbera:
"Saída pela direita!"
E saí de fininho.
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