O garoto brinca no balanço da escolinha. |
A areia, escorrendo pela ampulheta, marca a passagem do tempo.
Quando eu era garoto, não se falava em pré-escola: íamos ao parquinho. Não tínhamos professoras: elas eram as tias, as lindas tias.
Eu não usava tênis de couro fechado com velcro. Meu calçado tinha um solado de borracha branca emoldurando um tecido azul marinho, atado com cadarços que eu não sabia amarrar. Eram as congas que chegavam em casa, cheias de areia, de tanto brincar no recreio.
Sentávamos no alpendre da sala e tirávamos os pisantes, derramando a areia no canteiro do jardim.
Na semana passada, a escolinha do meu afilhado abriu os portões para a comunidade. A festa junina era para arrecadar fundos que ajudassem na manutenção do local, que antes era de responsabilidade exclusiva da prefeitura.
O lugar era diferente do meu parquinho, mas o tanque de areia estava ali.
Depois das danças ensaiadas, uma pausa para saborear o sanduíche de pernil, com pimentão, cebola e tomate, no pão francês. Uma combinação simples que, sem o tempero do sol gostoso daquele sábado, não ficaria perfeita num food truck requintado.
O sobrinho ganhou uma bola. Fui jogar com ele, junto com a minha filhinha. Os sorrisos se abriam feito um mundo novo para a menina, de apenas dois anos. E o meu calçado logo se encheu daquela areia grossa, cavada nas barrancas da infância.
Tirei o par e derramei os grãos de areia novamente. Não no alpendre da nossa casa, mas sob a mesa onde me recompus com um pedaço de bolo de cenoura. Vi as crianças nos balanços e pensei:
- Todo grão de areia conta.
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