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Paulo de Tarso dialoga com os estoicos no Areópago de Atenas (imagem gerada por I.A.). |
Você já perdeu um parente ou amigo que foi embora cedo demais? Eu já. Vários no mesmo dia. Por isso comecei a ler a Bíblia. Queria saber o que acontece com a alma das pessoas depois que elas se libertam ou são arrancadas de seus corpos.
Não encontrei muita coisa detalhada e clara a respeito do além vida, mas descobri na Bíblia uma espécie de manual de sobrevivência aqui na Terra. Depois de ler o Novo Testamento pela segunda ou terceira vez, reparei numa passagem de Atos dos Apóstolos, quando Paulo de Tarso - o santo judeu e cidadão romano que introduziu o cristianismo no seio da Europa - dialogou com os estoicos e epicuristas no Areópago de Atenas. Ao fim daquela conversa, nenhum jogou pedras nos outros.
Foi a senha para começar a ler os estoicos. Sêneca. Epicteto, Marco Aurélio, Cícero. Li também o que sobrou de Epicuro para os nossos tempos. Então, aquela angústia que eu sentia sempre que ia dormir e lembrava dos acontecimentos trágicos de outrora finalmente estava sendo aplacada.
Continuo sendo um cristão num mundo que trata os cristãos como gente ignorante e supersticiosa. Mas aprendi a ser estoico numa mundo que distorce o estoicismo para que os incautos possam suportar o que não precisa ser suportado: uma vida medíocre baseada em trabalho sem descanso.
Do mesmo modo que sou um cristão crítico, que não se conforma com o nome de Jesus sendo usado para enriquecimento ilícito e venda de cursos sobre empreendedorismo, investimentos e prosperidade; sou um estoico crítico, que não segue autores que coam o café pela terceira vez, se apropriando de ideais clássicas, as repaginando como novidades reveladoras.
Ao contrário dos fanáticos, que só leem a Bíblia e nada mais, estou aberto aos demais clássicos. Venho incluindo a filosofia oriental neste caldo de referências. Deus não vai mandar para o Inferno quem ler os textos clássicos que não figuram nos livros sagrados para os cristãos.
Se deixarmos os dogmas teológicos de lado, elaborados além do que está escrito nas escrituras sagradas, veremos que não há conflitos insuperáveis entre o cristianismo e o estoicismo. O que o primeiro faz pelo lado espiritual e sagrado, o segundo faz pelos aspectos mundanos que não podemos ignorar.
Desse modo, não me importo em ser rotulado como um cristoico. Que pensem que sou um supersticioso. Que pensem que sou um refém de livros baratos de autoajuda numa época em que a filosofia acadêmica foi sequestrada pelo marxismo e ainda não se desgarrou dele por completo.
Ser um cristoico significa não saber exatamente quem você é, mas significa que você está se empenhando para descobrir.
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